Intro
O Projeto Carbono Biodiverso® nasceu no início de 2021 como uma nova solução para a compensação carbónica em Portugal através do financiamento de ações de preservação e restauro ecológico a nível local.
Priorizamos a) a preservação das Gigantes Verdes, árvores de grande porte, que são hotspots de biodiversidade mas também reservatórios de carbono e b) o restauro de áreas degradadas onde plantamos as Gigantes Verdes do futuro,
Desta forma trabalhamos para reduzir a taxa de desaparecimento da floresta nativa, fruto das pressões diretas no território e da sua desvalorização por parte dos seus proprietários.
Coordenado pela VERDE e lançado em formato crowdfunding em maio de 2021, Carbono Biodiverso tem crescido aos poucos em formato autónomo e assumiu-se rapidamente como o principal meio de financiamento da missão da associação.
Para onde vai o dinheiro da compensação?
Este mecanismo permite a compensação tanto de empresas como de indivíduos singulares, em que o valor de financiamento é dividido em três campos de atuação da nossa atividade:
50% - Preservação das Gigantes Verdes;
30% - Plantação de novas árvores e ações de restauro ecológico
20% - Gestão interna da associação.
Cada compensação financia ações pré-identificadas que serão efetuadas pela VERDE e que terão um potencial de sequestro e armazenamento de carbono que compensa a ação de quem subscreve o mecanismo.
Quais são as premissas técnicas do projeto Carbono Biodiverso®?
Para implementar este projeto tivemos de atribuir um valor monetário ao carbono que as árvores preservadas e plantadas sequestram e para isso tivemos de efetuar alguns exercícios:
1. Caracterizar e medir cada Gigante Verde, identificando o seu papel de suporte à biodiversidade, mas também estimando o seu papel na provisão de outros serviços de ecossistema utilizando o software iTree. A caracterização de cada Gigantes consiste na sua identificação, geolocalização, medição e avaliação relativamente aos microhabitats lá existentes. Estes últimos, têm por base o Catálogo de Microhabitats do Projeto Integrate+.
Já com as medições feitas a cada árvore, usamos o iTree para estimar os serviços prestados pelas Gigantes Verdes ao longo de vários anos, mas também como as árvores que plantamos hoje terão um papel a nível local no futuro.
Assim sabemos que:
As árvores têm uma capacidade de aumentar a sua capacidade fotossintética ao longo do seu crescimento, sendo capazes de sequestrar mais carbono por cada ano que passa. O gráfico seguinte mostra a capacidade anual de sequestro de carbono de uma árvore plantada, em que no início da sua vida sequestra pouco carbono e há medida que vai crescendo vai sequestrando mais. Assim, em 10 anos, cada árvore plantada armazenará cerca de 22kg de carbono nos seus tecidos.
As Gigantes Verdes também têm uma curva semelhante, caso não tenham distúrbios que a façam diminuir a sua capacidade fotossintética e começar a decompor parte dos seus tecidos, devolvendo uma percentagem do seu carbono à atmosfera durante este processo de decomposição, que é essencial para 30% dos seres vivos que ocorrem nas florestas. Há assim um ponto de equilíbrio entre a quantidade de carbono sequestrado e o suporte de mais biodiversidade, que varia de árvore para árvore. Mesmo assim, assumimos uma capacidade de sequestro de carbono contínua nas nossas gigantes, dado que a gestão que pretendemos implementar tem como objetivo que a capacidade fotossintética esteja estável ou em crescimento. Em média, cada Gigante Verde: - Tem nos seus tecidos mais de 1500 kg de carbono armazenado; - Sequestra anualmente mais 50kg de carbono; - Permite que mais 1.2 litros de água sejam infiltrados nos solos anualmente; - Suporta 8 microhabitats para a biodiversidade;
A preservação de cada gigante e a plantação das árvores acontece de forma contínua ao longo do tempo e que ações complementares no território permitirão também salvaguardar riscos de queda ou morte de árvores mais antigas, potenciando a biodiversidade ao mesmo tempo que novas árvores as possam substituir no território.
Esta informação base é o que permite dizer que a preservação de cada Gigante Verde e a plantação das futuras Gigantes terá um efeito na mitigação das alterações climáticas no futuro, compensando assim a pegada de quem ajuda a financiar essas ações.
Mas não ficamos por aqui, até porque queremos priorizar as árvores que preservamos e por isso temos de:
2. Compreender os principais motivos que permitirão priorizar que árvores preservar por forma a que, consoante o financiamento que tenhamos disponível, consigamos preservar as árvores mais importantes para a comunidade de Lousada. Com base no feedback recebido por diversos proprietários e pessoas que preservam as suas árvores, mas também com base na nossa informação compilada, identificámos 4 grandes motivações para priorizar a preservação de Gigantes Verdes, que têm por si também um peso diferente na definição da prioridade:
40% - Reduzir riscos para pessoas ou bens de árvores que estejam na proximidade de edifícios ou vias de deslocação de carros ou pessoas;
20% - Valorizar e potenciar a biodiversidade das Gigantes Verdes com valor ecológico particularmente elevado, como as espécies nativas, mas também de exemplares com mais de 15 microhabitats, onde priorizamos as mais importantes com base em evidências científicas;
20% - Facilitar processos de restauro ecológico, sempre que estas árvores permitirem a regeneração natural da floresta circundante através da queda das suas sementes em solos com aptidão para germinarem e crescerem naturalmente;
20% - Recompensar a classificação de arvoredo de características singulares que seja classificado como património público ou municipal, passando a estar protegido de abate ou intervenções que as possam prejudicar.
Cada Gigante Verde é avaliada com base nestes quatro critérios, e quantos mais cumprir, maior será a prioridade de preservação, mas também maior poderá ser o valor de financiamento para preservação do exemplar. Para estimar este valor tivemos de:
3. Calcular o custo de gestão das Gigantes Verdes ao longo de 10 anos, mas também o custo de plantar, monitorizar e manter novas árvores vivas e saudáveis durante este período de tempo.
Para as árvores plantadas, estimamos um custo de 2€ por árvore plantada, com base na plantação de milhares de árvores e nas ações de plantação e monitorização implementadas.
Para as Gigantes Verdes, o cálculo tem como base diversos orçamentos apresentados por entidades especializadas em gestão de arvoredo de grande porte e com base em diversas situações. O valor médio de 333€ foi estimado para a gestão deste arvoredo a 10 anos.
O Carbono Biodiverso® é um resultado destes três exercícios.
Queremos preservar Gigantes Verdes e plantar novas árvores com base nos seus custos de gestão, permitindo que diversos serviços de ecossistema possam ser prestados e assim compensar a pegada carbónica de empresas ou cidadãos individuais.
Quanto vale uma tonelada de Carbono Biodiverso®?
Pretendemos apoiar a preservação das Gigantes Verdes com um apoio financeiro anual correspondente ao valor final do somatório dos quatro critérios do segundo exercício. Por exemplo, uma árvore que cumpra os 4 critérios terá um apoio de 100€/ano, enquanto que uma que apenas cumpra apenas o critério a) terá um apoio de 40€/ano ou se apenas o critério b) terá um apoio de 20€/ano. Com base nas milhares de árvores que já conhecemos em Lousada, este apoio terá um valor médio de 33€/ano/Gigante Verde, a ser atribuído durante 10 anos, após assinatura de contrato com o seu proprietário.
Por cada Gigante Verde preservada, pretendemos plantar 90 novas árvores. No final, sabemos que por cada ~130€ angariados, 1 tonelada de carbono será sequestrada em Lousada durante 10 anos, fruto do carbono sequestrado pelas Gigantes Verdes e pelas árvores plantadas.
Como financiar o Carbono Biodiverso®?
Mas para financiar estas ações temos de mediar o processo com pessoas ou empresas que queiram compensar a sua pegada.
Para tal implementámos um modelo para pessoas singulares, através de subscrições mensais que compensam uma percentagem da pegada individual anual de um cidadão português, em média de 5 toneladas de CO2e por ano, e para empresas, estabelecemos protocolos com base na quantidade de carbono a compensar e nas ações que implementamos e que sequestrarão carbono equivalente ao que se pretende compensar.
As subscrições mensais para cidadãos têm vindo a evoluir e contemplam:
Preservação de Gigantes Verdes em comunidade;
Plantação de novas árvores e outras ações de restauro ecológico;
Receção de dicas periódicas de como podemos reduzir a nossa pegada individual;
Relatórios periódicos sobre o impacto gerado pela subscrição até ao momento;
Com subscrições a começar nos 3€/mês, qualquer pessoa pode começar a financiar ações de conservação da natureza, sabendo que terão também um impacto estimado na ação conjunta de mitigação das alterações climáticas.
Mas como estamos também a evoluir, temos trabalhado para melhorar este serviço e estamos a efetuar algumas mudanças no modelo de subscrição, sempre mantendo os valores de cada plano e tentando ter mais impacto com menor investimento. Veja aqui as alterações em relação ao modelo anterior:
Contamos assim com um mecanismo mais transparente, mais informativo e mais envolvente também, gerando uma comunidade que participa ativamente nas ações da VERDE e que permite também trabalhar em conjunto para promover melhores práticas.
Futuro
Queremos continuar a fazer mais, e projectamos, para os próximos tempos que:
Iremos focar uma grande parte dos nossos esforços na Certificação, por uma entidade externa, do nosso mecanismo de compensação. Acreditamos que uma validação por entidades credenciadas para o efeito ajudarão o projeto a ganhar mais credibilidade, sendo também um primeiro passo para entrar nos mercados de carbono voluntários internacionais e assim conseguirmos alcançar um maior financiamento para o trabalho que desenvolvemos. Temos neste momento contactos estabelecidos com diversas entidades e ainda uma equipa interna exclusivamente focada nessa questão, tentando que, o mais rapidamente possível, consigamos certificar as nossas metodologias;
Queremos expandir para novos concelhos, iniciando por serviços de inventário de arvoredo urbano que possam ajudar a conhecer as Gigantes Verdes de outros concelhos e assim abrir novas portas e parcerias a nível nacional. Queremos também que outros projetos possam ser implementados para mapeamento destas árvores de grande porte, com formação e seguindo protocolos criados e implementados pela VERDE, para que se possa replicar esforços seguindo as mesmas metodologias a nível nacional. Se tiver interesse em saber mais, contacte-nos!
Expandir para novas estruturas biodiversas que sequestram carbono é algo que está na nossa agenda desde que iniciámos este projeto. Além das árvores de grande porte, também charcos, matos, pradarias marinhas, sapais, etc, têm capacidades muito elevadas de sequestrar carbono atmosférico, ao mesmo tempo que potenciam a biodiversidade do local onde se encontram. Queremos expandir e usar os mecanismos de Pagamentos por Serviços de Ecossistema para preservar estas estruturas e elementos naturais de elevada importância para a biodiversidade. Se gostavas de saber mais sobre isto ou ajudar a implementar algo, entra em contacto connosco.
Por enquanto, qualquer um pode subscrever um dos planos do Carbono Biodiverso.
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