O ano de 2021 marca o início da Década das Nações Unidas para o Restauro Ecológico 2021-2030. A VERDE assume o compromisso de seguir os 10 princípios orientadores para ajudar a alcançar os objetivos definidos para estes anos.
A biodiversidade encontra-se em todos os locais que nos rodeiam e está presente na nossa vida de 1001 maneiras. Integrar a conservação da natureza e da biodiversidade no dia-a-dia dos portugueses é um dos grandes objetivos da VERDE e, para tal, precisamos de trabalhá-la também nos locais que se encontram mais presentes e mais próximos das nossas vidas, onde vivemos e extraímos recursos, que consequentemente são também os que normalmente têm um maior nível de degradação ambiental, dada a transformação que sofreram e sofrem ao longo dos anos.
Como medir a degradação ambiental?
Quantificar a degradação ambiental de um certo ecossistema não é tarefa fácil, mas normalmente há uma correlação direta negativa entre o seu estado de saúde ecológica e a biodiversidade que lá ocorre, havendo menos espécies onde maior for o nível de degradação. Consequentemente, há também menos benefícios para a nossa qualidade de vida, havendo, por exemplo, solos menos férteis, menor produtividade de recursos e ainda menor quantidade de gases de efeito estufa armazenados.
A degradação ambiental é muitas vezes resultado da ação direta ou indireta do ser humano, e os principais impactos sobre a biodiversidade, quantificados pela Plataforma Intergovernamental sobre Biodiversidade e Serviços de Ecossistema em 2019 são resultantes de:
alterações da paisagem, com artificialização de solos, criando florestas ou campos agrícolas com monoculturas ou construindo zonas impermeabilizadas,
exploração direta do território,
alterações climáticas,
poluição,
proliferação de espécies exóticas invasoras
mas também do aumento da intensidade e frequência de distúrbios ecológicos como incêndios, tempestades e pestes.
As estimativas, em comparação com a pré-história, é que, por exemplo:
47% dos ecossistemas mundiais se encontram em declínio,
25% das espécies se encontram extintas ou ameaçadas de extinção,
82% da biomassa de mamíferos selvagens desapareceu, principalmente desde 1970.
Mas estas pressões são também fruto de causas indiretas do crescimento demográfico e das mudanças socioculturais, de pressões económicas e tecnológicas, da (in)ação dos governos e instituições e ainda de conflitos e epidemias a nível mundial.
Só percebendo os conflitos e principais causas de degradação é que conseguimos agir e implementar ações de restauro ecológico sustentáveis a longo prazo.
Restaurar ecossistemas degradados é essencial para conseguirmos melhorar as condições de vida no nosso planeta, mas também para mitigar os impactos que as alterações climáticas terão no nosso futuro. Mas além de restaurar o que está degradado, devemos ainda, e prioritariamente, conservar os ecossistemas e estruturas naturais que se encontram intactos ou que têm papéis significativos na qualidade dos locais onde estão inseridos e que permitirão ajudar a restaurar também as áreas que se encontram na sua envolvente, servindo de refúgio de biodiversidade.
O que é o restauro ecológico?
O restauro ecológico pode acontecer de diversas formas, tendo no entanto sempre em conta as condições atuais do espaço em questão mas também como este seria sem perturbações.
Falando de ecossistemas terrestres, onde a VERDE atua, as ações de restauro podem incluir a reflorestação de áreas, o controlo e remoção de espécies exóticas invasoras, a manutenção ou criação de estruturas naturais que suportam a biodiversidade, mas também pode ser mais passivo, gerindo corretamente as áreas que apresentem potencial de regeneração e restauro natural.
Não falamos claro de querer devolver todas as áreas com intervenção humana ao seu estado natural, até porque necessitamos de alimentos, sítios para viver, infraestruturas para nos deslocarmos, e tantas outras coisas que ocupam locais que outrora foram naturais. No entanto, temos de nos adaptar e contar também com o impacto ambiental que as decisões que tomamos no dia-a-dia podem ter no futuro do território.
Como é que a VERDE se vai alinhar com a década das Nações Unidas para o Restauro Ecológico?
Estimativas da ONU indicam que até 2030, o restauro de 350 milhões de hectares de ecossistemas terrestres e aquáticos degradados poderá gerar mais de 7.5 biliões de euros em serviços de ecossistema. As ações de restauro podem também ajudar a remover entre 13 e 26 gigatoneladas de gases de efeito estufa da atmosfera. As estimativas são também que os benefícios económicos destas intervenções excedam nove vezes o custo do investimento, enquanto a inação é pelo menos três vezes mais cara do que o restauro dos ecossistemas.
Para ajudar a alcançar os resultados expectados, a ONU lançou um guia com 10 princípios orientadores para as ações de restauro ecológico desta década, e a VERDE compromete-se com cada um deles para levar avante a sua ação em todos os serviços que presta.
Conheça-os melhor, segundo as descrições fornecidas pela ONU para cada um destes princípios, e saiba como trabalhamos em prol deste objetivo.
Princípio 1: Contribuição Global
Ecossistemas saudáveis sustentam todos os 17 Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS) e são essenciais para prevenir catástrofes climáticas e extinção em massa. O restauro bem-sucedido do ecossistema contribui para o cumprimento dos ODS e reúne as metas das três Convenções do Rio, combatendo simultaneamente as mudanças climáticas, a perda de biodiversidade e a degradação do solo. VERDE e os 17 Objetivos do Desenvolvimento Sustentável: A ação da VERDE está enquadrada com diversos ODS, tendo ações diretas sobre os indicadores:
1 – Erradicar a pobreza, através da criação de processos fáceis de financiamento para melhorar a gestão sustentável do território e dos recursos naturais associados, 8 – Trabalho digno e crescimento económico, uma vez que pretendemos que as Gigantes Verdes sejam consideradas património a visitar e tornando-se atrativos turísticos do território, criando novas oportunidades de emprego e valorização da cultura e produtos locais, 11 – Cidades e comunidades sustentáveis, tendo um trabalho direto para salvaguardar as árvores como património natural, que ajuda, por exemplo, a melhorar a qualidade do ar dos espaços onde estão inseridas, 13 – Ação climática, dado que a preservação de Gigantes Verdes permite evitar a emissão de milhares de toneladas de gases de efeito estufa para a atmosfera, mas também sequestrar cada vez mais ao longo dos anos, permitindo que o território se torne mais resiliente às mudanças espectáveis, 15 – Vida terrestre, grande foco da VERDE, dado que todas as ações têm como objetivo gerir de forma sustentável o território por forma a promover a vida terrestre, desde a conservação, restauro e gestão de árvores e florestas, mas também das áreas envolventes, incluindo o controlo e erradicação de espécies exóticas invasoras, incluindo também os valores dos serviços dos ecossistemas em todas as ações decorrentes e sempre que possível, alavancar financiamento de diversas fontes para estas ações,
16 – Paz, justiça e instituições eficazes, através da transparência de processos eficazes e responsáveis, inclusive no momento de tomada de decisão, sempre que possível sendo inclusiva, participativa e representativa de quem nos apoia.
Princípio 2: Amplo envolvimento
As pessoas estão no centro. Atualmente, mais de 40 por cento da população mundial sofre de solos secos, insegurança hídrica e outros impactos adversos da degradação do ecossistema. Os implementadores da restauração devem incluir as pessoas afetadas ao longo do processo - e prestar atenção especial às vozes dos grupos sub-representados e marginalizados, como povos indígenas, minorias étnicas, mulheres, jovens e pessoas LGBTIQ +.
A VERDE e o envolvimento da comunidade já tem vindo a acontecer mesmo antes de sermos uma entidade formal. Em outubro de 2020 juntou-se o conselho consultivo do Projeto Gigantes Verdes, onde foram envolvidos diversos stakeholders relacionados com o presente e futuro das Gigantes Verdes para discutir como poderíamos criar novas formas para as preservar. Incluímos tanto empresas nacionais e locais, académicos e especialistas em diversas matérias relacionadas às árvores, diversos proprietários e ainda governantes locais. Ao longo do processo temos também criando oportunidades para discussão dos projetos em curso, abrindo portas para discutir a implementação das iniciativas e envolver na equipa novas pessoas interessadas em colaborar. Qualquer pessoa pode tornar-se nossa associada e os projetos em curso têm sempre em mente dar resposta a desigualdades entre proprietários e colaboradores, permitindo também chegar a todos os interessados. Além disso, os incentivos financeiros diretos e indiretos que pretendemos implementar para preservar as Gigantes Verdes pretendem ser eficazes na resposta às necessidades de quem os recebe.
Princípio 3: Continuum de atividades
Não existe uma abordagem única para a difícil tarefa de trazer de volta o que foi perdido. Às vezes, é o suficiente para dar espaço à natureza; mangais, por exemplo, muitas vezes voltam a crescer por conta própria uma vez que os distúrbios são removidos. Mas os ecossistemas que estão gravemente degradados podem exigir mais esforço, como o plantio de árvores em grande escala. Porém, há uma coisa que todas as boas atividades de restauração têm em comum: elas resultam em um ganho líquido para a biodiversidade e a saúde do ecossistema, enquanto beneficiam as pessoas.
As muitas atividades da VERDE prendem-se acima de tudo na redução dos impactos diretos sobre o ambiente pela gestão insustentável dos recursos existentes e alterações a uso do solo, mas também pela remoção de espécies exóticas invasoras, pela reabilitação de áreas de cultivo ou produção florestal que se encontram abandonadas e altamente degradadas e por fim promover também uma gestão sustentável dos habitats, potenciando a sua regeneração natural e continuação de sucessão ecológica presente. Temos em curso programas de voluntariado contínuos que permitem diariamente ter um impacto positivo em prol do ambiente. E tu também podes fazer parte.
Princípio 4: Benefícios para a natureza e para as pessoas
Embora as atividades de restauro do ecossistema possam variar desde o plantio de árvores frutíferas em jardins escolares até a revitalização de recifes de coral, elas devem buscar os maiores benefícios possíveis. Sob nenhuma circunstância o restauro deve levar a uma maior degradação do meio ambiente ou das pessoas que dele dependem.
A VERDE promove o restauro ecológico de floresta nativa de forma complementar às ações de preservação e conservação de zonas ou elementos de elevado valor ecológico, como as Gigantes Verdes, promovendo assim a salvaguarda dos valores atuais mas também que estes promovam a melhoria contínua do território. Tentamos, sempre que possível, que as ações de plantação para restauro sejam efetuadas com plantas filhas das Gigantes Verdes locais e também que sejam plantadas em locais onde possam facilmente se estabelecer e crescer ao longo das próximas décadas, mesmo face às alterações climáticas.
Princípio 5: Lidar com as causas de degradação
Restaurar ecossistemas não é um substituto para a conservação dos que ainda se encontram com saúde. Da mesma forma, no caso da ação climática, o aumento dos sumidouros naturais de carbono precisa ir de mãos dadas com a descarbonização da economia. O restauro eficaz, portanto, precisa enfrentar os fatores de degradação, desde os contribuintes diretos, como a extração de recursos, até os fatores indiretos, como as mudanças climáticas.
Conhecemos as causas de degradação das Gigantes Verdes e da sua envolvente, desde 2018 que mais de 450 árvores desapareceram, principalmente por alterações de uso de solo e desvalorização pelos seus proprietários. Os vários projetos em curso pretendem alterar isso e criar mais valor para este património que é de todos.
Princípio 6: Integração de Conhecimento
A ideia de que os humanos podem trazer de volta ecossistemas degradados tem uma longa história na academia e na prática. Para ter sucesso, o restauro de ecossistemas deve integrar vários tipos de conhecimento. Isso inclui o trabalho científico, mas também o conhecimento indígena e tradicional e a experiência das comunidades locais. As melhores práticas e inovações também devem ser capturadas, avaliadas e amplamente disponibilizadas.
Na VERDE temos cientistas, designers, marketeers e outros técnicos que nos trazem diariamente conhecimento da academia e visões diferentes. Queremos aliar todo este conhecimento também ao das gentes locais, aos proprietários do território, e com eles encontrar as melhores soluções de valorização do património natural. Já o começámos no conselho consultivo dos Gigantes Verdes, mas queremos ir mais além.
Princípio 7: Metas Mensuráveis
No início de cada jornada de restauro, os implementadores e aqueles afetados pelo restauro devem decidir qual o objetivo final da intervenção. Isso deve incluir o estabelecimento de metas definidas - como o número e a variedade de árvores a serem plantadas, por exemplo - bem como metas económicas e sociais. Todos os alvos devem ser medidos em relação a uma linha de base para determinar o impacto que o restauro fez.
Tudo o que é planeado pela VERDE tem como base a situação inicial dos espaços intervencionados, permitindo assim, e com base nos planos de monitorização, avaliar o impacto causado pela ação da associação.
Princípio 8: Contextos locais e de paisagem terrestre e marítima
O restauro ecológico é uma missão global. A ação necessária durante esta década deve abranger todos os continentes e oceanos. Mas o restauro também é local por natureza. Medidas que são benéficas num local podem ter efeitos adversos noutro. Por exemplo, a introdução de árvores e outras espécies que não são nativas do meio ambiente pode levar a uma degradação ainda maior.
As intervenções levadas a cabo pela VERDE são baseadas numa análise à priori do local, onde são identificadas as causas de degradação e as condições do local, por forma a que as intervenções sejam baseadas nas necessidades locais e que possam ter o maior sucesso.
Princípio 9: Monitorização e Gestão
Restauro ecológico é um conjunto de ações complexas e os impactos reais das iniciativas são difíceis de prever. A monitorização contínua é essencial para garantir que as medidas estejam progredindo em direção aos objetivos do projeto. Mas nem tudo pode ser controlado. As iniciativas de restauro devem, portanto, seguir práticas de gestão adaptativas e ajustar as intervenções conforme necessário.
Na VERDE planeamos as ações a longo prazo e tendo em conta potenciais riscos associados. Para conseguir avaliar o seu desenvolvimento, temos em curso planos de monitorização periódicos que permitam corrigir certos problemas quando necessário mas também avaliar se as estimativas de impacto que definimos se encontram a ser cumpridas.
Princípio 10: Integração de Política
O restauro não acontece sem território. Vários fatores, incluindo financiamento, podem determinar o sucesso de longo prazo de uma iniciativa. Os instrumentos de governança, como leis e políticas, são essenciais para sustentar o renascimento dos ecossistemas.
A VERDE trabalha em proximidade com as entidades de governança locais para que as suas ações alcancem os melhores objetivos possíveis. Além disso, define na base dos seus projetos, o regulamento do seu funcionamento, para que todos os intervenientes estejam também alinhados no funcionamento dos mecanismos, programas ou projetos em curso.
Como indicamos no nosso manifesto, a VERDE é uma associação criada para integrar a conservação e regeneração da natureza no dia-a-dia dos portugueses. Se acreditas na nossa missão, junta-te a nós. E podes fazê-lo de muitas formas. Subscreve o Carbono Biodiverso. Torna-te nosso associado. Dedica o teu tempo ao nosso voluntariado. Traz o teu conhecimento e capacidades à equipa, ajudando a melhorar ainda mais o que temos em curso.
Comentários