Segundo a Convenção para a Diversidade Biológica1, biodiversidade significa a variabilidade dentro das espécies, entre espécies e de ecossistemas.
Esta pode ser avaliada tanto a nível de um habitat ou da paisagem2, sendo estimada a nível genético, fenotípico (diferenças de características entre organismos) e/ou funcional (que funções cada organismo desempenha)3.
A taxonomia permite-nos classificar os organismos vivos e atribuir-lhes nomes de acordo com a sua estrutura e análises genéticas. A diversidade taxonómica, de onde se pode obter informação acerca do número e abundância de espécies, é uma das medidas mais utilizadas para quantificar a biodiversidade em estudos ecológicos. A diversidade funcional é outra medida emergente, que permite ir além de um inventário de espécies e compreender como interagem com o meio e entre si ao longo das diferentes fases de vida4,5,6.
Ainda que a história evolutiva dos organismos condicione as características que apresentam, podemos encontrar grupos taxonómicos distintos que convergiram em soluções semelhantes para dar resposta aos mesmos problemas7.
No que toca à biodiversidade de um habitat, o número de espécies presentes não nos conta a história completa, já que algumas são raras enquanto outras são extremamente comuns. Para além disso, cada espécie desempenha um papel diferente no funcionamento do ecossistema.
O tempo também influencia a biodiversidade a vários níveis: por exemplo, o mesmo ecossistema terá, ao longo das diferentes estações do ano, variações nas espécies que o compõem e por isso é sempre necessário avaliar ao longo de um determinado período as espécies que ocorrem em determinado habitat. Do mesmo modo, a sincronização de ciclos de vida entre espécies é o que permite que, por exemplo, o fim da metamorfose de um inseto polinizador coincida com a época de floração das plantas que poliniza8.
Em suma, são estas interações entre espécies que alteram o fluxo de energia e matéria ao longo do espaço e do tempo e, consequentemente, determinam o funcionamento do ecossistema.
Como é que a biodiversidade afeta a nossa qualidade de vida?
Dado que a biodiversidade não só responde ao seu entorno como é uma parte ativa na sua transformação, a sua perda reduz o funcionamento de um ecossistema e a sua capacidade de resposta a perturbações. Esta degradação debilita a provisão de serviços de ecossistema (benefícios que a humanidade retira dos ecossistemas (materiais e/ou imateriais).
Estes incluem, mas não estão limitados a:
produção de biomassa
decomposição de matéria orgânica
reciclagem de nutrientes
regulação climática
controlo biológico de pestes
provisão de espaços culturais ou recreativos
Desta forma, os riscos sobre a biodiversidade afetam diretamente a nossa condição humana, afetando mercados e o comércio como hoje o conhecemos2, onde a produção em massa não tem em conta os limites dos recursos que necessita.
Como é que a biodiversidade responde a perturbações?
Ao longo da história, a intervenção humana levou a alterações no tamanho e na conectividade entre habitats, na distribuição global de espécies e nos ciclos biogeoquímicos, culminando no declínio acentuado da biodiversidade que observamos atualmente9,10. As alterações de uso do solo, a extração de recursos, a poluição, a expansão de espécies exóticas invasoras e as alterações climáticas são as principais ameaças à biodiversidade3.
A alteração das espécies que dominam uma paisagem pode ter consequências tremendas para a capacidade de resposta do ecossistema a perturbações. As plantas, por exemplo, são responsáveis pela produção de biomassa de muitos ecossistemas, e as espécies vegetais dominantes determinam grande parte do fluxo de energia e matéria para os restantes níveis das cadeias alimentares. A introdução de espécies invasoras demonstra o quanto o funcionamento de um ecossistema pode ser alterado pela presença de uma única espécie, podendo observar-se impactes nas relações tróficas (níveis da cadeia alimentar) e até no regime de fogos ou cheias11.
Ainda que certas espécies contribuam mais do que outras para determinados processos, a redundância funcional é importante para manter o funcionamento de um ecossistema, especialmente num contexto de mudanças globais. Quando num habitat temos várias espécies com funções semelhantes, mas que diferem na sua resposta a perturbações, aumentamos a probabilidade de que pelo menos algumas sobrevivam e as funções que desempenham se mantenham ativas. Adicionalmente, a diversidade de espécies dificulta a dispersão descontrolada de pestes, uma vez que os seus hospedeiros se encontram mais afastados ao longo do espaço e há uma maior probabilidade de encontrarmos predadores no território em questão9.
Contudo, nem todas as disrupções são nocivas. Várias espécies dependem de perturbações naturais periódicas para completar os seus ciclos de vida, como é o caso de algumas plantas pirófilas, cujas sementes só quebram a sua dormência e germinam após serem escarificadas por fogo.
Na VERDE - Associação para a Conservação Integrada da Natureza, temos trabalhado com empresas e proprietários para implementar o Carbono Biodiverso, implementando Planos de Gestão a longo prazo que potenciam a biodiversidade enquanto maximizam o sequestro e armazenamento de carbono, aumentando a resiliência das propriedades privadas de Lousada a distúrbios naturais ou humanos.
Para ler mais acerca deste assunto:
CBD. 1992. Convention Biological Diversity. UN 1992.
Nabuurs, G.J., Begemann, A., Linser, S., Paillet, Y., Pettenella, D., zu Ermgassen, S. 2024. Sustainable finance and forest biodiversity criteria. From Science to Policy 16. European Forest Institute. https://doi.org/10.36333/fs16
IPBES. 2019. Global assessment report on biodiversity and ecosystem services of the Intergovernmental Science-Policy Platform on Biodiversity and Ecosystem Services. E. S. Brondizio, J. Settele, S. Díaz, and H. T. Ngo (editors). IPBES secretariat, Bonn, Germany. 1148 pages. https://doi.org/10.5281/zenodo.3831673
Cadotte, M.W., Carscadden, K. and Mirotchnick, N. (2011), Beyond species: functional diversity and the maintenance of ecological processes and services. Journal of Applied Ecology, 48: 1079-1087. https://doi.org/10.1111/j.1365-2664.2011.02048.x
Hooper, D.U., Chapin, F.S., III, Ewel, J.J., Hector, A., Inchausti, P., Lavorel, S., Lawton, J.H., Lodge, D.M., Loreau, M., Naeem, S., Schmid, B., Setälä, H., Symstad, A.J., Vandermeer, J. and Wardle, D.A. (2005), EFFECTS OF BIODIVERSITY ON ECOSYSTEM FUNCTIONING: A CONSENSUS OF CURRENT KNOWLEDGE. Ecological Monographs, 75: 3-35. https://doi.org/10.1890/04-0922
Laureto, L.M.O., Cianciaruso, M.V., Samia, D.S.M., 2015. Functional diversity: an overview of its history and applicability. Natureza & Conservação 13, 112–116. https://doi.org/10.1016/j.ncon.2015.11.001.
Menezes, S., Baird, D.J. and Soares, A.M.V.M. (2010), Beyond taxonomy: a review of macroinvertebrate trait-based community descriptors as tools for freshwater biomonitoring. Journal of Applied Ecology, 47: 711-719. https://doi.org/10.1111/j.1365-2664.2010.01819.x
Harrington R, Woiwod I I, Sparks T. Climate change and trophic interactions. Trends Ecol Evol. 1999 Apr;14(4):146-150. doi: 10.1016/s0169-5347(99)01604-3. PMID: 10322520.
Chapin III, F., Zavaleta, E., Eviner, V. et al. Consequences of changing biodiversity. Nature 405, 234–242 (2000). https://doi.org/10.1038/35012241
Hillebrand, H. and Matthiessen, B. (2009), Biodiversity in a complex world: consolidation and progress in functional biodiversity research. Ecology Letters, 12: 1405-1419. https://doi.org/10.1111/j.1461-0248.2009.01388.x
Diaz, S., Cabido, M., 2001. Vive la difference: plant functional diversity matters to ecosystem processes. Trends Ecol. Evol. 16, 646–655. https://doi.org/10.1016/ s0169-5347(01)02283-2
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