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Seca e Desertificação - Dia Mundial de Combate à Desertificação

Em 1994, a Convenção das Nações Unidas para o Combate à Desertificação definiu desertificação como a degradação dos solos devido a variações climáticas e atividades humanas. Durante a convenção, estabeleceu-se 17 de junho como o Dia Mundial de Combate à Desertificação. O problema afeta principalmente terras áridas, semiáridas e subúmidas, mas pode se expandir para outras regiões devido às mudanças climáticas.


De uma forma geral, a humidade atmosférica circula dos oceanos para os continentes e flui entre solo, plantas e corpos de água. O aquecimento global leva a uma intensificação do ciclo da água [1], observando-se extremos de precipitação e as consequentes alterações na frequência e intensidade de secas e cheias [2]. Com o aumento das temperaturas, tem-se vindo ainda a observar uma aridificação de várias regiões [3], [4], entre elas a região mediterrânica.





O que é uma seca?


A seca é um intervalo de tempo durante o qual há uma escassez de água relativamente às exigências de um sistema [5]. Esta escassez frequentemente tem origem num défice da precipitação média para uma determinada região [6] e é exacerbada por outros fatores, como [7], [8]:

  • Temperaturas altas;

  • Ventos fortes;

  • Baixa humidade relativa;

  • Intensidade e distribuição das chuvas ao longo das estações do ano;

  • Aumento da evaporação e transpiração;

  • Elevada procura dos recursos hídricos.


Ainda que possam acontecer em qualquer região climática, há regiões mais vulneráveis à seca, como é o caso da região mediterrânica. Contrariamente a outras catástrofes naturais, a atividade humana pode desencadear secas através de práticas insustentáveis de uso de água (agricultura e irrigação intensivas) e da degradação de espaços naturais, afetando a sua capacidade de retenção de água (desflorestação, erosão) [7].


De acordo com as suas causas e consequências, as secas dividem-se em quatro categorias [6], [9]:

  • Meteorológica: caracterizada pela falta de precipitação numa região durante um período;

  • Hidrológica: ocorre quando os recursos aquíferos, quer à superfície quer subterrâneos, não dão resposta à procura/ às exigências de um sistema;

  • Agrícola: caracterizada pelo declínio da humidade dos solos, que leva à perda de colheitas e diminuição da produtividade agrícola;

  • Socioeconómica: ocorre quando os recursos hídricos não são suficientes para suprir as necessidades económicas.



Que consequências podem ter estes períodos de seca?


Há um desfasamento entre o início da seca e a manifestação dos seus efeitos, podendo estes persistir décadas após a seca que os despoletou ter terminado[7]. Estes efeitos variam consoante os contextos socioeconómicos e ecológicos de cada local, podendo fazer-se sentir muito além das regiões inicialmente afetadas. Desde impactos económicos (produção energética reduzida, baixa produtividade agrícola [10], custos acrescidos para o consumidor [8]) a impactos ecológicos (perturbação de zonas húmidas [11], infiltração de águas salinas nas águas subterrâneas [12], aumento do risco de fogo [13], [14], [15]), a seca pode ter efeitos devastadores.


Embora se observem assimetrias nas frequências de eventos extremos, como no norte europeu, mais propenso ao aumento de cheias, e o sul, mais propenso ao aumento de secas [16], os impactos destes eventos alastram-se. A seca de 2005 sentiu-se para lá da Península Ibérica, levando a uma redução de cerca de 10% da produção de cereais a nível da União Europeia [17]. Desde 1991, as secas europeias têm causado 5,3 mil milhões de euros de prejuízo médio anual [18].



Das alterações globais à desertificação


Mais de 40% da superfície terrestre global é composta por ambientes áridos e semi-áridos[19]. A região mediterrânica está na interface entre biomas temperados e secos, e espera-se que até ao fim do século haja uma expansão das zonas áridas, passando a cobrir mais do dobro (400,000 km2) da área atual[20], [21]. Como resultado das alterações climáticas e da intervenção humana, ocorre a degradação de zonas áridas, semi-áridas e secas, levando à desertificação[22].

Para além de reduzir a biodiversidade dos ecossistemas afetados, a desertificação interfere com o ciclo da água da região, colocando em risco a segurança alimentar, a saúde e os rendimentos das populações que lá residem[23]. Os milhões de pessoas afetadas pela desertificação podem ver-se forçadas a migrar para outras regiões, aumentando a pressão populacional dos locais onde se estabelecerem.



Próximos passos


As projeções atuais sugerem que as secas se tornarão mais longas, severas e frequentes [24], [25]. No entanto, a maioria das respostas a eventos de seca almejam gerir a crise e não preveni-la. A ineficácia destes programas de assistência, cuja ajuda muitas vezes não chega atempadamente aos lesados, reside na sua reatividade. Para criar sociedades resilientes à seca, é importante incentivar a adoção de medidas de prevenção que incluam uma redução no consumo de água, sistemas robustos de monitorização, iniciativas de educação e práticas de gestão como o uso de espécies resistentes à escassez de água[26], [27].





O papel da VERDE no combate a seca


Na verde trabalhamos para minimizar os impactos atualmente sentidos pela seca e prevenir que se agravem nos próximos anos, algumas destas ações focam-se na:


Preservação de árvores, evitando a desflorestação de áreas - As árvores desempenham um papel vital na retenção de água no solo. As raízes profundas ajudam a aumentar a infiltração da água da chuva, reabastecendo os lençóis freáticos e mantendo o solo húmido por mais tempo. Além disso, a copa das árvores reduz a evaporação da água do solo, protegendo-o do sol direto. Ao evitar a desflorestação, mantemos estas funções essenciais que ajudam a mitigar os efeitos da seca.


Gestão de vegetação, reduzindo incêndios -  A gestão adequada da vegetação reduz o risco de incêndios florestais, que destroem grandes áreas de cobertura vegetal. Incêndios frequentes ou de grande escala degradam o solo, diminuindo sua capacidade de reter água e aumentando a erosão. Ao reduzir a frequência e a intensidade dos incêndios, a vegetação permanece saudável e funcional, mantendo a húmidade do solo e contribuindo para a regulação do ciclo da água.


Reflorestação – Plantando árvores e vegetação nativa em áreas degradadas para aumentar a cobertura vegetal, melhorando a retenção de água no solo. As árvores ajudam a manter a humidade do solo, reduzindo a evaporação e promovendo um ciclo hidrológico saudável, o que combata a seca.


Proteção da Biodiversidade – Conservando áreas naturais e habitats que protegem os ecossistemas que regulam o ciclo da água. Quando estes ecossistemas se encontram saudáveis, como florestas e zonas húmidas, atuam como esponjas naturais, armazenando água durante períodos chuvosos e liberando-a lentamente durante períodos secos. Isto mantém a humidade do solo e reduz a severidade das secas.


Gestão de linhas de água - Protegendo e restaurando linhas hídricas, como rios, riachos e nascentes, garantindo que essas fontes de água permaneçam viáveis e produtivas. A gestão dos recursos hidrográficas e a proteção das margens dos rios ajudam a prevenir a sua erosão, mantendo a qualidade e a quantidade de água disponível para uso durante estes períodos secos.


Apoio a Comunidades Locais – Fortalecendo as capacidades das comunidades para adotarem práticas sustentáveis e oferecendo incentivos financeiros para a conservação e gestão sustentável das suas propriedades. Quando as comunidades estão bem informadas e são apoiadas estão mais resilientes à seca, pois adotam práticas que minimizam o desperdício de água e maximizam sua conservação dos ecossistemas que fazem esta regulação.


Os efeitos da seca e desertificação são um dos grandes principais problemas à sobrevivência e cuidado das Gigantes Verdes, árvores de grande porte que trabalhamos para preservar.


O Projeto Carbono Biodiverso financia estas ações de plantação e restauro de linhas hídricas como complemento à preservação das Gigantes Verdes e tem como objetivo a longo prazo, incentivar os seus proprietários a preservar e investir no restauro e plantação de espaços de imenso valor ecológico, promovendo assim um impacto social nas comunidades de Lousada e adjacentes.




Referências:

[1] P. C. D. Milly, R. T. Wetherald, K. A. Dunne, and T. L. Delworth, “Increasing risk of great floods in a changing climate,” Nature, vol. 415, no. 6871, pp. 514–517, Jan. 2002, doi: 10.1038/415514a.

[2] K. E. Trenberth, J. Fasullo, and L. Smith, “Trends and variability in column-integrated atmospheric water vapor,” Climate Dynamics, vol. 24, no. 7–8, pp. 741–758, Jun. 2005, doi: 10.1007/s00382-005-0017-4.

[3] A. Dai, “Increasing drought under global warming in observations and models,” Nature Clim Change, vol. 3, no. 1, pp. 52–58, Jan. 2013, doi: 10.1038/nclimate1633.

[4] J. Sheffield and E. F. Wood, “Projected changes in drought occurrence under future global warming from multi-model, multi-scenario, IPCC AR4 simulations,” Clim Dyn, vol. 31, no. 1, pp. 79–105, Jul. 2008, doi: 10.1007/s00382-007-0340-z.

[5] K. T. Redmond, “THE DEPICTION OF DROUGHT: A Commentary,” Bull. Amer. Meteor. Soc., vol. 83, no. 8, pp. 1143–1148, Aug. 2002, doi: 10.1175/1520-0477-83.8.1143.

[6] D. A. Wilhite and M. H. Glantz, “Understanding: the Drought Phenomenon: The Role of Definitions,” Water International, vol. 10, no. 3, pp. 111–120, Jan. 1985, doi: 10.1080/02508068508686328.

[7] A. K. Mishra and V. P. Singh, “A review of drought concepts,” Journal of Hydrology, vol. 391, no. 1–2, pp. 202–216, Sep. 2010, doi: 10.1016/j.jhydrol.2010.07.012.

[8] Y. Ding, M. J. Hayes, and M. Widhalm, “Measuring economic impacts of drought: a review and discussion,” Disaster Prevention and Management: An International Journal, vol. 20, no. 4, pp. 434–446, Aug. 2011, doi: 10.1108/09653561111161752.

[9] American Meteorological Society (AMS), “Statement on meteorological drought.” Bull. Am. Meteorol. Soc. 85, 771-773, 2004.

[10] R. S. Cottrell et al., “Food production shocks across land and sea,” Nat Sustain, vol. 2, no. 2, pp. 130–137, Jan. 2019, doi: 10.1038/s41893-018-0210-1.

[11] R. Calow, N. Robins, A. Macdonald, and A. Nicol, “Planning for groundwater drought in Africa.,” Proceedings of the International Conference on Integrated Drought Management: Lessons for Sub-Saharan Africa., vol. IHP-V, Technical Documents in Hydrology, no. 35, pp. 255–270, 1999.

[12] D. Pulido-Velazquez et al., “Integrated assessment of future potential global change scenarios and their hydrological impacts in coastal aquifers – a new tool to analyse management alternatives in the Plana Oropesa-Torreblanca aquifer,” Hydrol. Earth Syst. Sci., vol. 22, no. 5, pp. 3053–3074, May 2018, doi: 10.5194/hess-22-3053-2018.

[13] L. Gudmundsson, F. C. Rego, M. Rocha, and S. I. Seneviratne, “Predicting above normal wildfire activity in southern Europe as a function of meteorological drought,” Environ. Res. Lett., vol. 9, no. 8, p. 084008, Aug. 2014, doi: 10.1088/1748-9326/9/8/084008.

[14] A. Russo, C. M. Gouveia, P. Páscoa, C. C. DaCamara, P. M. Sousa, and R. M. Trigo, “Assessing the role of drought events on wildfires in the Iberian Peninsula,” Agricultural and Forest Meteorology, vol. 237–238, pp. 50–59, May 2017, doi: 10.1016/j.agrformet.2017.01.021.

[15] M. Turco, J. Von Hardenberg, A. AghaKouchak, M. C. Llasat, A. Provenzale, and R. M. Trigo, “On the key role of droughts in the dynamics of summer fires in Mediterranean Europe,” Sci Rep, vol. 7, no. 1, p. 81, Mar. 2017, doi: 10.1038/s41598-017-00116-9.

[16] R. Voss, W. May, and E. Roeckner, “Enhanced resolution modelling study on anthropogenic climate change: changes in extremes of the hydrological cycle,” Intl Journal of Climatology, vol. 22, no. 7, pp. 755–777, Jun. 2002, doi: 10.1002/joc.757.

[17] United Nations Environment Programme, “GEO Year Book 2006: An Overview of Our Changing Environment, Nairobi, Kenya.” 2006.

[18] European Communities, “Addressing the Challenge of Water Scarcity and Droughts in the European Union.” Commun. Com. (2007), Brussels.

[19] U. Deichmann and L. Eklundh, “Global digital datasets for land degradation studies: a GIS approach,” GRID Case Study Series 4, 1991.

[20] A. G. Koutroulis, “Dryland changes under different levels of global warming,” Science of The Total Environment, vol. 655, pp. 482–511, Mar. 2019, doi: 10.1016/j.scitotenv.2018.11.215.

[21] T. Ozturk, M. T. Turp, M. Türkeş, and M. L. Kurnaz, “Future projections of temperature and precipitation climatology for CORDEX-MENA domain using RegCM4.4,” Atmospheric Research, vol. 206, pp. 87–107, Jul. 2018, doi: 10.1016/j.atmosres.2018.02.009.

[22] United Nations, “UN Earth Summit Convention on Desertification.” UN Conference in Environment and Development, Rio de Janeiro, Brazil, June 3–14, 1992. DPI/SD/1576. United Nations, New York., 1994.

[23] U. N. Safriel, “Status of Desertification in the Mediterranean Region,” in Water Scarcity, Land Degradation and Desertification in the Mediterranean Region, J. L. Rubio, U. Safriel, R. Daussa, W. Blum, and F. Pedrazzini, Eds., in NATO Science for Peace and Security Series C: Environmental Security. , Dordrecht: Springer Netherlands, 2009, pp. 33–73. doi: 10.1007/978-90-481-2526-5_3.

[24] F. Lehner et al., “Projected drought risk in 1.5°C and 2°C warmer climates,” Geophysical Research Letters, vol. 44, no. 14, pp. 7419–7428, Jul. 2017, doi: 10.1002/2017GL074117.

[25] B. I. Cook, T. R. Ault, and J. E. Smerdon, “Unprecedented 21st century drought risk in the American Southwest and Central Plains,” Sci. Adv., vol. 1, no. 1, p. e1400082, Feb. 2015, doi: 10.1126/sciadv.1400082.

[26] K. Latiri, J. P. Lhomme, M. Annabi, and T. L. Setter, “Wheat production in Tunisia: Progress, inter-annual variability and relation to rainfall,” European Journal of Agronomy, vol. 33, no. 1, pp. 33–42, Jul. 2010, doi: 10.1016/j.eja.2010.02.004.

[27] D. A. Wilhite, M. V. K. Sivakumar, and R. Pulwarty, “Managing drought risk in a changing climate: The role of national drought policy,” Weather and Climate Extremes, vol. 3, pp. 4–13, Jun. 2014, doi: 10.1016/j.wace.2014.01.002.

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